Entrei com os Dois Pés na Porta do Motociclismo

Fonte: #ElasPilotam

Acho que não tenho uma grande história inspiradora sobre minha jornada no motociclismo. Mas, pode ter certeza que minhas experiências diárias são as mesmas que as suas e, isso sim, são inspirações para nós mulheres motociclistas. Aliás, para nós mulheres. Vivemos tanta coisa, tantas conquistas e é extremamente gratificante ter um espaço como esse para compartilhar nossas histórias, sejam elas de superações, emoções, aventuras, qualquer coisa que faça o coração bater mais forte.

“Juntas somos mais fortes. Imagina de moto.”

Meu nome é Luana Michelucci, sou antropóloga visual e trabalho com marketing há muitos anos. Mas bem, vou começar a contar um pouco sobre mim falando da primeira vez que subi em uma motocicleta. Eu tinha 5 anos de idade e meu pai tinha uma Iron 883R na época. Eu nunca tinha dado uma volta com ele, mas nesse dia ele virou e falou: “Lubis, hoje você vai dar uma volta no quarteirão comigo”. UOUUUUU, o que?? Você sabe do que eu estou falando. Você entende essa sensação. Garupa ou piloto, a sensação da primeira vez em uma motocicleta você nunca esquece. Pois bem, lá estava eu na garupa do meu pai pronta para sair em apenas uma volta no quarteirão. Então minha mãe diz: “Luana, segura bem forte, mas muito forte”. Eu segurei, muito forte. Quando chegamos da nossa volta eu havia rasgado a camiseta do meu pai, mas esses dois furos que fiz valeram a pena.

Vida vai, vida vem e o motociclismo sempre esteve presente na minha vida e eu sempre estive nesse meio com meu pai. Então o dia mais importante da minha vida chegou. O dia em que a Joelma estava na minha garagem. A minha primeira moto, a Intruder 125. Sem palavras, acho que não preciso entrar em detalhes aqui. Mas, o primeiro passeio em grupo com ela foi com o motoclube do meu pai. Eu era a única mulher no meio daquele bando de homem e naquele momento eu pensei: “Eu vou dominar esse mundo e vou ter um lugar aqui”. E partir desse momento me posicionei e não aguentei mais picuinha de quem me subestimava quando me via de moto. Depois de dizer adeus à Joelma veio o grande amor da minha vida, a Lindsey, minha Harley-Davidson Forty-Eight.

Com certeza preciso de um parágrafo pra falar da fase da minha vida com ela, porque foi INSANA. Não por ser uma moto de 1200 cc, mas eu me desafiei naquele momento e desafiei a cidade também. Eu não andava de carro faz tempo, apenas de moto todos os dias, inclusive ir e voltar ao trabalho. Passei por muitos faróis em que motoboy e homens encheram o meu saco, mas no final o que um grito no capacete fechado não libera o estresse, ein? A Lindsey me deu confiança pra concretizar qualquer posicionamento que me propus a ter no motociclismo e, de novo, não foi pela moto mas sim por mim mesma e por confiar em mim. Era o momento em que eu sentia que eu podia ser a Luana. Ali ninguém podia me falar o que pensar ou fazer. E é isso que eu continuei fazendo em cima ou fora dela.

E aí veio a minha louca obsessão pela Candinha, minha atual motocicleta, a Triumph Street Twin. Como passamos por aventuras, ein. Não tenho nem como escrever tudo por aqui, mas posso dizer que estivemos em longas viagens, circuitos de terra em um grande cafezal, e claro, a rotina de rasgar o asfalto pela marginal pinheiros. Todas as motos que eu tive me conectei muito e senti uma evolução absurda com cada uma. Aprendi a pegar o jeito, acelerar, frear na hora certa e a entender os meus limites. Claro que corri alguns perigos que me fizeram dar um passo atrás. Sofri dois acidentes com a Candinha (que ainda está em recuperação) que me assustaram muito, mas nunca deixei isso me tomar e sempre tive certeza que o motociclismo é pra mim e que preciso aprender a me controlar. Porque afinal, a moto é uma extensão do seu próprio corpo, você controla com como uma dança, com os movimentos do seu quadril em uma curva. Entendo plenamente que no dia-a-dia tenho que tomar mais cuidado com os outros do que comigo mesma nas ruas.

“Por fim, uma das coisas que eu levo e levarei para a vida com o motociclismo com certeza são as pessoas que cruzei nesse caminho e que me ensinaram muita coisa. Principalmente as mulheres que conheci que pilotam e também as que não pilotam, mas que um dia tem vontade e se inspiram nesse movimento.”

Foram tantas conversas, tantas trocas e tantas lições que tenho apenas a agradecer. É por isso que insisto tanto em mostrar e ter um espaço para nós mulheres motociclistas, porque é extremamente valioso.

@luanamichelucci

#elaspilotam #pilotesuavida